Homeland — A melhor série (nova) da temporada

Andries Viljoen
14 min readDec 2, 2020

--

(sério, ainda estou com falta de ar depois dessa season finale de quase 1h30 que foi muito da sensacional, a qual eu acabei de assistir no exato momento em que eu comecei a escrever esse post, porque não consegui me conter de tamanha ansiedade e eu já começo dizendo que isso quase nunca acontece, o que só pode ser um sinal da qualidade da série e se você ainda não assistiu Homeland, ou não chegou ao final da temporada, recomendo que interrompa a sua leitura agora e volte depois que fizer a lição de casa. Depois não diga que eu não avisei…)

Quando Homeland começou, já havia muita conversa sobre a série e uma vaga promessa de que viria coisa boa pela frente. Acabei não dando muita atenção, mas assisti ao episódio piloto logo, que eu até já achei bem bom, mas resolvi deixar a série para depois, para assistir sem pressa nenhuma, com calma, quando tivesse um tempo sobrando, embora encomendasse semanalmente os episódios novos para o meu amigo Paolo, só para garantir.

Isso, até eu achar algum tempo disponível e começar a fazer a minha maratona no que eu descobriria mais tarde ser a série (nova) mais sensacional dessa temporada. Sério, sem brincadeira e longe de qualquer tipo de exagero.

Digo série nova entre parênteses, porque esse ano tivemos outras coisas boas, como a Season 4 de Breaking Bad por exemplo, entre outras séries (como algumas comédias que estão em hiatus nesse momento), então não sei se eu acho justo colocar Homeland como melhor série do ano, sem o parenteses do “nova”. Mas eu colocaria a série mesmo sendo uma estreante, no mesmo patamar de qualidade de Breaking Bad, ou Damages em sua melhor fase. Pelo menos ela chegou a me provocar a mesma reação que eu já senti no passado assistindo a ambas as outras duas séries.

Homeland começa colocando a agente bipolar da CIA, Carrie Mathison (Claire Danes, que merece todos os prêmios do mundo por sua atuação na série) investigando um possível militar convertido pelo terrorismo e que como principal suspeito, ela tem o sargento dos fuzileiros navais, Nicholas Brody (Damian Lewis), um militar americano mantido em cativeiro por 8 anos, que acaba sendo resgatado depois desse tempo todo pelos soldados americanos, praticamente no mesmo momento em que ela descobre que temos um impostor na jogada. Embora com esse resgate todo mundo passe a ver o cara como um herói, voltando para casa depois de passar anos sendo torturado e não se rendendo ao inimigo, Carrie imagina que talvez ele possa ser o tal “vira casaca” a serviço do terrorismo, uma possibilidade que ela acaba descobrindo através de uma fonte segura local e assim, começa uma investigação por conta própria, ficando de olhos grudados 24 horas por dia no novo herói americano.

Uma série clássica de polícia e ladrão, só que de uma forma muito melhor do que você possa imaginar. Eles se reinventam o tempo todo, quando vc imagina que esta chegando à alguma conclusão, vem um fato qualquer e muda completamente a sua percepção sobre as coisas, isso contantemente, até que você chega ao final da temporada a ponto de ter um ataque cardíaco de tão tenso que foi aguentar aquela 1h24 minutos de duração episódio, onde tudo poderia acontecer a qualquer momento e que teve uma das melhores resoluções de todos os tempos. Uma plano bem mais simples do que a gente poderia imaginar, mas complexo ao mesmo tempo, ou seja, uma delícia.

E as propostas parecem ser infinitas na série. Eles começam com uma espécie de Big Brother montado ilegalmente na casa do sargento Brody, de onde Carrie observa 24 horas por dia todos os passos do sargento dentro daquela casa e na convivência da sua família. E tudo parece suspeito, tudo parece tão estranho, que você começa a tentar montar esse quebra cabeça para tentar desvendar quem de fato é aquele homem, ou pelo menos tentar entender em quem ele se transformou depois desses últimos oito anos.

Enquanto tudo isso acontece, vamos conhecendo um pouco mais da vida do misterioso sargento Brody, o seu cotidiano em casa, ao lado da sua família, a esposa que acabou tendo um caso com o seu melhor amigo por achar que o seu marido estava morto e também, o dia a dia desse homem tentando recuperar esses oito anos que passou distante, agora ao lados dos seu filhos já crescidos e que ele mal conhece. Um comportamento completamente esquisito, mas totalmente justificável pelos seus oito anos em cativeiro, o que só de imaginar já me deixa sem ar.

Claro que se a série continuasse apenas nessa “vigilância” tudo seria resolvido muito facilmente, mas logo no quarto episódio (1×04 Semper I) eles resolvem que já não podem mais permanecer apenas nesse jogo de espera e Carrie é obrigada a abandonar o seu projeto de reality show em busca do inimigo. Como plano B, ela resolve arriscar alto e passa a ter um contato direto com Brody, fingindo ser por acaso, buscando ajuda no mesmo centro que ele passa a frequentar para resolver os seus problemas com a questão da readaptação à sua família.

Só que eles começam a fica íntimos demais depois de sair trançando as pernas daquela bar e acabam “se conhecendo melhor” no banco de trás do carro dela, que parece não ter limites quando se trata sobre algo do seu interesse profissional. (o que muita gente pode achar meio assim, mas que é um perfil comum dentro desse meio de espionagem e nós já vimos isso antes)

E o que parece uma aproximação inocente, vai se transformando em algo maior, com Carrie se arriscando em um fim de semana ao lado do inimigo, deixando todo mundo aflito com as consequencia que poderiam vir depois desse encontro. Na cabana da família de Carrie eles começam a se entender, usando aquela linguagem de poucas palavras e muita ação que todo nós já conhecemos bem qual é, rs.

Nesse momento, Homeland acabou demonstrando o porque merece ser considerada uma das melhores séries da temporada (se não a melhor), porque acabou arriscando tudo em um episódio ainda na metade da temporada, que poderia ter funcionado muito bem como um season finale, por exemplo, mas que para nossa surpresa foi utilizado antecipadamente, virando completamente o jogo em questão até então.

Que foi quando por um erro da Carrie no episódio 7 (1×07 The Weekend), Brody acabou percebendo que ela estava mesmo ali se envolvendo com ele porque desconfiava de algo mais e a partir disso, a história começa a mudar de figura. Os dois se encaram, ele sem se intimidar com o fato de que ela acha que ele pode ser o tal terrorista, enfrenta de cara limpa as perguntas da Carrie, armada (arma que ele achou, mas devolveu para ela em sinal de confiança), enlouquecida, assustada, cheia de dúvidas com o fato dele ter mentido descaradamente no teste do polígrafo, sem provocar nenhuma alteração no resultado, aproveitando a chance de talvez resolver todo aquele mistério ali naquele momento vulnerável, frente a frente com o possível inimigo, mesmo que para isso ela tivesse que arriscar a sua própria vida. Um episódio sensacional!

Aqui, pela primeira vez, podemos ver a história com os olhos do sargento Brody, que antes a gente só conseguia enxergar em alguns flashbacks confusos, sem uma timeline definida. Percebemos então que talvez aquele homem não seja realmente o vilão que estamos procurando, já que a sua versão da história ao lado de Abu Nazir (o grande terrorista pure evil da série) é no mínimo convincente e até justificável.

E assim eles vão brincando com a nossa cabeça, plantando sempre a dúvida de que se o agente Brody seria ou não o terrorista da vez. Confesso que eu achei esse jogo sensacional e embarquei em todas as versões da história. Comecei achando que só poderia ser ele mesmo o tal terrorista, não tinha a menor dúvida disso e sabia que cedo ou tarde ele mostraria a sua cara. Depois fiquei em dúvida, comecei a achar que talvez ele pudesse sim ser inocente, uma vítima e passei a achá-lo um homem “normal”, honesto, algo próximo do herói como ele vinha sendo pintado. Ou seja, fui enganado o tempo todo e mesmo assim aceitei com a maior felicidade desse mundo esse truque, sem me sentir um completo idiota, o que é ainda melhor.

Caminhamos para a reta final da história onde passamos a entender as verdadeiras intenções do sargento Brody e o porque do seu envolvimento com Abu Nazir, momento onde passamos a entender que o instinto de Carrie em relação a essa história fazia todo o sentido desde o começo. De uma forma bastante delicada e com uma cena linda de um momento pavoroso de guerra, eles conseguiram até “humanizar”, se é que a gente pode falar assim, essa ideologia terrorista do vilão da série, mostrando que violentamente, ambos os lados tem a sua culpa. Well done!

O pior de tudo é que nós vamos percebendo que tudo vai acontecendo e apenas a Carrie consegue enxergar as coisas como elas realmente são, embora a essa altura ela já esteja completamente apaixonada pelo novo herói americano, o que certamente acaba comprometendo a sua visão sobre o caso. Isso e o fato do sargento Walker se encontrar vivo, começa também a deixar cada vez mais distante a ideia de que o sargento Brody tenha alguma relação com esse possível ataque terrorista que está por vir a qualquer momento. Ou seja, reviravolta atrás de reviravolta. (quando ele apareceu sentado na cadeira da casa do diplomata gay, eu quase cai da minha própria cadeira e eu não estou brincando)

Apesar de parecer que a Carrie caminha sozinha nessa busca, ela tem como braço direito o Saul, que trabalha ao lado dela na investigação toda e é a única pessoa que confia no seu trabalho, mesmo quando ela acaba dando motivos para ele pensar o contrário. Os dois tem uma relação de cumplicidade bem bacana (embora ele não saiba da sua bipolaridade) e ele funciona como uma espécie de mentor dela dentro da CIA. Em um momento da temporada Carrie enxerga no amigo o seu futuro, sozinha, afundada no trabalho e sem ter conseguido ter uma vida completa, algo que ela acaba dizendo em um momento enquanto desabafa com Saul algumas de suas frustrações no trabalho, o que chega a ser um momento bem triste na série, levando em consideração a recém separação dramática de Saul, justamente por conta do seu trabalho.

Até que chegamos ao que pra mim (e acho que para todo mundo), foi o momento mais aguardado da temporada, o show da Claire Danes enfrentando a primeira crise séria de bipolaridade da sua personagem, Carrie. Sério, o que foi aquilo? Todo mundo me falou sobre o episódio 11 (1×11 The Vest), cheguei a ler também em vários lugares sobre a sua atuação primorosa nele, mas quando de fato cheguei a esse momento sensacional da temporada, fiquei de boca aberta com o talento dessa mulher, que vai ter que levar algum prêmio por essa sua atuação, ou será a maior injustiça desse mundo, hein?

Uma Carrie enloquecida, descontrolada, assustando todo mundo que ainda não sabia sobre a sua doença (e até quem sabia), vendo a sua timeline genial da investigação ser destruída sem sequer ser entendida pelos seus superiores, entregando que ela é uma mulher doente, o que certamente a deixará distante da posição que exerce no momento dentro da CIA. Dra-ma! Aquela sequência final, com ela berrando, a música ficando mais alta e a Carrie seguindo completamente descontrolada e tendo que ser contida por todos em sua casa, foi um dos melhores momentos da TV atualmente. Sem a menor dúvida, uma cena para se lembrar por muito tempo.

Isso tudo para chegarmos ao excepcional season finale (1×12 Marine One), um episódio perfeito, do começo ao fim. Brody assumindo de vez a posição de terrorista, gravando inclusive um vídeo onde ele contava as suas verdadeiras intenções, trabalhando em conjunto com o Walker, um sniper de primeira que deixou todo mundo aterrorizado com seus olhões arregalados quando começou a aparecer na série. E essa história toda ainda escondia um plano para o crime perfeito, onde o sniper (Walker) acabaria fornecendo apenas uma isca, um motivo para que todas aquelas pessoas importantes ali presentes, mais o vice presidente e o chefe da segurança nacional fossem colocados no mesmo lugar e na mesma hora, uma banker, para que o sargento Brody tivesse enfim a chance de colocar o seu plano em ação como homem bomba, completando a vingança de Abu Nazir em relação ao seu filho morto, Issa, com o qual o sargento Brody manteve uma relação de afeto (praticamente de pai e filho) por algum tempo, depois que ganhou certos “privilégios” em seu cativeiro.

Fiquei tenso, suando (bem menos que ele é claro), a cada segundo daquela cena, com o sargento Brody caminhando ao lado do vice presidente para finalizar a sua tarefa, uma vingança à covardia do governo americano por ter matado crianças inocentes do lado de lá em um de seus ataques (onde Issa acabou sendo vítima), tudo isso em nome de uma ideologia, que nesse caso não tinha a máscara da religião ou qualquer outra muleta para se apoiar, a não ser a sede de vingança contra a impunidade de quem se diz ser o herói da história.

Vale dizer também que não só nesse momento, mas em toda a temporada, que o ator Damian Lewis também esteve muito bem no papel do misterioso sargento Brody, o que justifica totalmente a sua indicação ao Globo de Ouro e por essa season finale eu passo a torcer ainda mais para que ele leve esse prêmio para casa. (já que o Aaron Paul não está nessa disputa)

E ele tenta uma, duas, sei lá quantas vezes explodir aquele colete (aliás, muito bem pensando como ele conseguiu passar pelo detector de metais hein?), vai ao banheiro, tenta arrumar o que não deu certo no colete, volta para o banker e quando está prestes a detonar a bomba, recebe o telefonema da sua filha, convencida pela Carrie (em mais um de seus sensacionais surtos em busca do que ela acredita) e por todas as estranhezas que ela veio observando em seu pai nos últimos dias de convívio, fazendo ele jurar que voltaria vivo para casa e assim, ele decide que talvez aquele não seja o melhor momento para colocar o seu plano em ação. Sério, que momento, não?

Sinceramente? Um dos melhores finais de temporada ever. Fazia bastante tempo que eu pelo menos não ficava tão aflito, grudado na minha cadeira laranja esperando para que toda aquela aflição acabasse logo, mas curtindo cada segundo dessa tortura, rs.

Para o agente Brody (que realmente era o vilão, para quem ainda estiver se perguntando) sobrou a tarefa de convencer o terrorista Abu Nazir que mesmo depois de não ter conseguido seguir com o plano de vingança, por problemas técnicos (e familiares) ele ainda tinha algum valor, por conta da sua influência política a essa altura como herói nacional e por ter passe livre no governo americano, o que acaba nos levando para o plot da Season 2, que já foi confirmada faz tempo pelo Showtime, para a nossa alegria. (até o Obama chegou a declarar por esse dias que Homeland é uma das suas séries preferidas do momento)

Enquanto isso, encerrando essa temporada primorosa, do outro lado da história temos Carrie, a única que conseguiu chegar a entender exatamente tudo aquilo que estava acontecendo, mesmo com toda a sua loucura e descontrole, só que a essa altura, afastada do serviço secreto, provavelmente sem poder ter acesso novamente as informações top secrets por conta da sua doença, se sentindo traída pelo homem que ela chegou a amar e acreditar (lembrando que ela não sabe ainda que o Brody era exatamente quem ela sempre achou que ele fosse), seguindo para a clínica para tentar um tratamento de choque, colocando em risco a sua memória, acreditando que nesse momento ela não tem mais nada a perder mesmo, uma vez que por essa história toda ela acabou perdendo tudo. Até que naquela contagem regressiva dos segundos finais do episódio, enquanto ela estava sendo anestesiada para começar o seu tratamento, Carrie acabou se lembrando de algo importante que liga o motivo do crime combinado entre Brody e o Abu Nazir (adorava ela falando Abu Nazir na série) á aquele período nebuloso em amarelo da sua timeline e só nos resta agora torcer para que essa parte da sua memória não seja perdida por completo para a próxima temporada. UOW!

Só sei que eu terminei de assistir Homeland e bati palmas, de pé até. Que série sensacional, não?

Uma ideia simples até, tratando um assunto com um vilão comum, fácil de ser odiado, só que de forma bem diferente ao que estamos acostumados a ver por ai, com um roteiro fora do comum, capaz de te deixar completamente em dúvida o tempo todo sobre o desenrolar da história, que para a nossa sorte é muito bem amarrada e no final tudo faz muito sentido, a ponto de me fazer terminar esse ano de 2011 com uma maratona (digo isso pq eu corri para chegar a acompanhar o ep final com todo mundo da america antiga) que me deixou completamente satisfeito, do começo ao fim. O que eu recomendo para cada um de vocês que não tenha assistido Homeland ainda. Aproveita esse fim de ano, que eu tenho certeza que você não vai se arrepender. GARANTO!

Mas antes de terminar o meu post, preciso fazer uma denúncia séria que os meus anos como agente duplo da inteligência inglesa (rs) não me deixam passar batido: eles copiaram ou não o fundamento do meu “E” invertido no logo da série do logo do Guilt, hein? Exijo explicações senhorita Carrie Mathison, fiz uma timeline gigante aqui na parede do meu quarto e na parte do magenta, tudo me leva a crer que sim hein? rs

ps: como a série foi tão excelente, eu digo que tudo bem vocês terem emprestado o meu fundamento para o logo de vocês. Sem ressentimentos. (mas: Confirmou!)

Höy!

--

--

No responses yet