Homeland e a temporada que poderia ser o seu fim (e talvez tenha sido)

Andries Viljoen
9 min readDec 4, 2020

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Homeland não é mais a mesma desde a sua Season 2, que já não havia sido tão boa assim. Não tão boa como sua temporada de estreia, essa até então insuperável para a série. Começamos de forma excelente, com uma das melhores tramas da TV atual, tensa, cheia de reviravoltas e absolutamente corajosa ao colocar um dos maiores medos dos americanos em jogo, colocando um ex-militar agora terrorista assumido em uma posição que ninguém esperava, despertando inclusive alguns sentimentos importantes naquela que estava a frente do seu caso e que parecia entender a sua mente como ninguém, talvez a única. Mas esse foi apenas o seu começo, quando ainda estávamos conhecendo seus personagens, decidindo para que lado torcer, mesmo sabendo que apesar do arrependimento, Brody tinha sim sua parcela de culpa e em algum momento precisaria pagar por tudo aquilo que fez, quase fez e ou considerou fazer, mesmo com o personagem não tendo o menor sossego ao longo das duas primeiras temporadas da série.

Em sua segunda fase, ainda aproveitando a fama de novo herói americano, tivemos Brody assumindo uma posição política de prestígio, irritando ambos os lados, tanto a segurança americana, que apesar de gostar do bom exemplo que o militar poderia se tornar aos olhos da sociedade e o quanto eles ainda poderiam lucrar com essa história, tanto com o lado terrorista da trama, que se encontrava irritadadíssimo com a traição do personagem, mesmo que ela nunca tenha sido totalmente assumida e quando tentado, em diversas vezes ele tenha sido balançado pelos dois lados dessa história de mocinhos não tão mocinhos e vilões não tão vilões, onde todos dividiam alguma parcela de culpa.

Até que no final da segunda temporada algumas posições foram assumidas definitivamente, com mais aquele ataque terrorista pavoroso, além da divulgação do vídeo antigo feito pelo próprio Brody, assumindo qual era o seu lado naquele momento (a essa altura, quando resolveu gravar o próprio vídeo e estava convicto que os americanos eram os inimigos), embora essa já não fosse mais exatamente a sua realidade. Naquele ponto da história, com Brody seguindo um destino incerto de fugitivo, meio que sem querer, Homeland havia praticamente decretado sua sentença de morte, porque seria pouco real o personagem acabar perdoado por todo um país, uma vez que suas intenções nem sempre foram as melhores possíveis, mesmo porque, seria bem difícil todo mundo esquecer que aquele homem esteve bem perto de se explodir juntos com alguns lideres importantes em um determinado ponto da história.

Quando a Season 3 começ0u, essa já sem a presença de Abu Nazir, o temido inimigo por duas temporadas que a essa altura já se encontrava morto, suspeitamos que boa parte da temporada acabaria girando em torno da fuga do Brody e a Carrie tentando portegê-lo a qualquer custo, afinal, agora tratava-se do homem da sua vida. Mas não foi exatamente o que encontramos. Aliás, não encontramos Brody por boa parte da nova temporada e quando esse encontro finalmente aconteceu, passamos um episódio inteiro sem entender exatamente o porque dele estar onde estava, sendo tratado como estava sendo tratado, uma vez que parecia que ele estava sendo vigiado como prometido e tudo aquilo nos levava a crer que ele não se encontrava naquelas condições a toa. Nessa hora, apesar da saudades que sentimos do ruivo mais vira casaca em solo americano, sentimos que acabou sendo um pouco demais um episódio inteiro focado no personagem daquela forma, sem maiores explicações e ou justificativa além da saudade e da atuação sempre sensacional do Damian Lewis.

Carrie continuou bipolar, transando com dopplelgangers ruivos apenas para passar o tempo, ainda a frente de uma outra investigação, a do novo terrorista mais procurado do velho oeste. Esse tão impiedoso quanto Nazir, capaz de matar a ex mulher e a nora com requintes altíssimos de crueldade na frente do próprio neto, mas que logo depois, ao ser preso e obrigado pelo Saul a trabalhar a favor da segurança americana, acabou perdendo todo a força da sua vilanice. Esse inclusive talvez tenha sido um dos pontos mais fracos dessa atual temporada, porque todos os novos inimigos não tiveram muito tempo para se estabelecer como os grandes inimigos da vez e faltou credibilidade nessa área para que a gente acreditasse que aquelas pessoas realmente estavam dispostas a acabar com todos e com tudo em 3, 2, 1.

Sem o Brody por perto, Carrie também perdeu bastante da sua força, mesmo permanecendo lindamente (graças ao talento da Claire Danes) durante boa parte da temporada presa em uma clínica e se submetendo a um tratamento pesado em relação a sua doença, uma vez que seus patrões agora já estavam cientes de sua condição bipolar, em cenas de tortura e desespero bem boas, mas que também perderam sua força quando descobrimos que tudo aquilo havia sido uma ideia em parceria com o Saul e que todos eles estavam cientes de que tudo aquilo não passava de uma encenação, apesar dela ter realmente se submetido a tudo aquilo fisicamente.

Por falar em “fisicamente”, Carrie ainda não parecia estar nada bem, apesar de não ter sofrido nenhuma grande crise ao longo dessa fraca Season 3, mas ficou bem claro que ela não estava tão equilibrada assim quando nos deparamos com sua gaveta repleta de testes de gravidez guardado na mesa de cabeceira ao lado de sua cama. Sério, não tem que se fazer xixi naquele palitinho para sair algum resultado? Então: EW!

E apesar do amante doppelganger (AMEI ela roubando dinheiro do cara sem a menor culpa), estava na cara que aquele filho era mesmo do Brody e ficamos aguardando ansiosamente pelo momento em que ela enfim contaria para o amor da sua vida (pensando friamente e esquecendo que o amor acontece e a gente não tem muito controle sobre ele, acho tão estranho alguém como ela, profissionalmente falando, acabar completamente apaixonada por um homem como ele, mas talvez isso tenha acontecido porque ele era tão bipolar quanto ela em termos de opiniões ou lados a se seguir), algo que só foi acontecer mesmo no final da temporada, quando ambos os personagens finalmente tiveram alguns poucos momentos juntos para discutir mais uma vez essa relação.

Em meio a tudo isso, perdemos um tempo enorme dessa nova temporada com plots políticos envolvendo o cargo do Saul (Zzzz) e os demais que estavam de olho em sua posição, além da sua relação com a própria mulher e um colega de trabalho esquisito, assim como com a família Brody, que a gente não aguenta desde a Season 1 e que permaneceu bastante presente ao longo dessa nova temporada, para o desespero de todos. Mãe e filho a gente até poderia aguentar em doses leves, aparecendo de vez em quando como meros figurantes, mas o difícil mesmo foi tentar acompanhar todo o drama da Dana (sempre ela!), que talvez seja a personagem mais odiada da TV atual apenas por existir, com a adolescente agora com o peso de uma tentativa de suicídio nas costas, se envolvendo mais uma vez com o tipo errado (plot super repetitivo para a mesma, vai?), decidindo mudar de nome e tentar uma nova vida longe de tudo e de todos. Tão longe que dizem que ela não volta mais para a próxima temporada (AMÉM!), assim como sua mãe, que também não fará a melhor falta e ao final dessa Season 3, passamos a entender melhor o porque além da nossa implicância com esse núcleo na série, claro. (do moleque eles nem falaram nada porque talvez tenham esquecido da sua existência). Como mais uma distração para essa temporada arrastada e cansada de Homeland, ainda tivemos a Carrie sendo baleada pelo Quinn a mando de seus superiores, ele que também não teve o menor destaque na trama, mas que de vez em quando denunciava que tinha certa “preocupação” exagerada pra cima da Carrie. Estamos de olho, Quinn. (sem contar a historinha da nova assistente do Saul, que acabou meio que abandonada no meio do caminho)

Até que chegamos ao final da temporada, onde finalmente o Brody voltou a ser o centro das atenções (para ser justo, nos dois últimos episódios pelo menos), novamente assumindo seu papel dúbio de sempre, virando herói no lado inimigo (colocando a cara na imprensa local e tudo mais) mas ainda trabalhando para os americanos na surdina, que deixavam bem claro a todo tempo que não confiavam nele e tão pouco tinham grandes intenções de tirá-lo daquela enrascada. No meio de muita correria e um Brody assassino conseguindo sair de um prédio repleto de seguranças da forma mais fácil desse mundo, incluindo uma caminhada pelas ruas e o pedido para o motorista lhe dar seu celular, uma vez que ele poderia sacar uma bazuca do bolso a qualquer momento e acabar com aquela palhaçada pouco convincente, ainda tivemos alguns momentos para Carrie dividir com o ruivo, incluindo a confissão da sua gravidez.

Mas desde o começo do episódio, ganhamos uma Brody distante, pensativo, melancólico, perturbado demais pelos seus atos, olhando demais para o horizonte, algo que já denunciava o que estava por vir, mesmo porque, já não lhe restavam muitas alternativas a essa altura. E quando Carrie achou que voltaria para a america antiga com o assassino mais procurado do mundo em seus braços para anunciar a sua gravidez no sofá da Oprah (eu sei que ela nem tem mais aquele sofá, mas bem que poderia vai?), em um plano arquitetado pelo lado inimigo (dos dois lados), ganhamos a notícia de que Brody não voltaria e que seria julgado e possivelmente executado em praça pública. Boom. (tá, ele não se explodiu, mas valeu como efeito dramático)

Uma cena que não tinha como não funcionar, como ele preso a um guindaste, sendo levantado pelo pescoço (com uma cara medonha e super realista, não?) e uma Carrie, mulher, branca, com cara de americana, gritando seu nome aos berros em meio a uma população sedenta pela sua cabeça, foi algo que acabou tirando toda a credibilidade da cena e teria sido muito mais impactante se naquele momento, Carrie tivesse sofrido calada, sem poder esboçar uma reação maior, coisa que sabemos que a Claire Danes sabe fazer como ninguém com seu queixinho trêmulo e tudo mais.

Avançando quatro meses após a execução do segundo personagem mais importante de toda a mitologia de Homeland (talvez o mais importante deles, porque toda a história girava em torno do que Brody havia passado/feito até então), encontramos Saul comemorando os avanços políticos frutos dessa operação, mesmo estando longe do comando e a Carrie sendo promovida, ainda grávida, com medo, dizendo que não estava pronta para ser mãe e visivelmente assustada com tudo aquilo. Desse final com cara de series finale, a emoção valeu mesmo por conta da estrelinha que ela mesmo fez questão de desenhar naquele painel (own!), algo que os americanos (com alguma razão) se recusaram a fazer em nome do Brody, mas que ela achou que seria justo e fez ela mesmo.

Encontrando um final de temporada como esse, que nos tirou completamente o chão e não deixou muitas alternativas para o que poderá acontecer com a série daqui para frente, fica difícil acreditar que eles não acharam que aquela seria a reta final de Homeland e se de repente, o Showtime não resolveu renovar a série tarde demais. Se não foi isso, nada justifica uma final tão anticlímax como esse, que nos deixou pouco para continuar se interessando pela série daqui para frente. O que teremos agora? O drama da relação Saul e sua mulher não muito fiel? Carrie criando o filho quadripolar com o pai e a irmã? Dana voltando na Season 5 como a mulher bomba da vez?

Seja lá o que for, com esse final, Homeland se arriscou alto e talvez sofra as consequências em breve. Agora só falta dizer que o Brody não morreu e que aquele enforcamento não passou de um truque de ilusionismo. Imagina?

A quarta temporada promete.

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